Olá, queridas xicrinhas de café! Na última edição, vimos que o acaso pode trazer boas surpresas quando nos permitimos dar um tempo ao ócio. Hoje conversaremos sobre a relação entre jornadas (aliás, adoro essa palavra), inércia e enredos.
“A Jornada do Herói deve ser usada como uma forma, não uma fórmula; um ponto de referência e fonte de inspiração, não uma determinação ditatorial.*”
*VOGLER, Christopher. A jornada do escritor [livro eletrônico]: estrutura mítica para escritores. Ilustração: Michele Montez. Tradução: Petê Rissatti. 3. ed.São Paulo: Aleph, 2015.
Sou o tipo de pessoa que gosta de palavras. Interesso-me por suas sílabas, histórias, diferentes significados, sonoridades e diferentes usos. Não sou boa em gramática, confesso. Isso porque me embolo em tantas regras. Quase não sei usar a vírgula e a tal da regência nominal só funciona com dicionário ao lado.
Ainda assim, insisto nelas. Tem algo de mágico ao juntar uma aqui, outra ali em uma história cheia de reviravoltas emocionantes. Talvez seja isso que me atrai e me convida ao exercício ou, melhor, ao atrevimento de escrever sobre as coisas que me fazem ser essa pessoa que gosta de palavras.
Coleciono algumas palavras que considero divertidas. Certa vez pensei em anotá-las, mas achei melhor deixá-las livres para assumirem novos significados por aí. Ultimamente, Jornada tem sido uma das minhas preferidas por dois motivos. Primeiro, quando você pronuncia Jornada, seus lábios se juntam como se fossem dar um beijo e, ao terminar, sua boca fica aberta como se fosse um sorriso.
Viu como é divertido? (eu sei que você fez o teste, nem adianta disfarçar)
O segundo motivo está relacionado à citação lá em cima. Quando resolvi ler esse livro do Christopher Vogler, estava em busca de orientações para iniciar minha carreira como escritora. Bem, ainda estou nesse processo, porém ansiava por dicas sobre a estrutura de uma história, dos personagens e entender melhor o uso dos arquétipos na literatura.
Contudo, a leitura me trouxe outra dimensão sobre os meios de transformar essa palavra Jornada em um movimento épico, no qual o personagem vai em busca de aprendizado. No livro, o autor comenta que esse modelo pode ser usado em qualquer narrativa, até mesmo em nossas miudezas cotidianas.
“A Jornada do Herói é um modelo que parece se estender em muitas dimensões, expondo mais de uma realidade. Entre outras coisas, descreve de forma precisa o processo de cumprir uma jornada, as partes funcionais necessárias de uma história, as alegrias e desesperos de ser escritor e a passagem da alma pela vida.” (Christopher Vogler)
Para mim, escrever é sempre visceral. Os dedos sangram a cada letra, meu corpo reclama a rigidez da posição enquanto minha mente desata os nós, feitos de atos e personagens, que teimei em amarrar. Dificilmente experimento aquele lufar de inspiração antes de me colocar de frente ao computador. O cursor me tenta, perturba e intima a transformar sentimentos em fragmentos de orações para aliviar meu pecado mais íntimo: o prazer na escrita.
Vi por aí!
Meu algoritmo no Instagram deve estar louco com tantas coisas aleatórias que vou selecionando durante os dias. Fazer o que se sou essa pessoa meio pluma na brisa. Voo aqui, ali e só repouso quando faltar o ar.
Nessas deslizadas digitais, guardei duas dicas de perfis, ambos sobre arte e dignos de serem seguidos por vocês. O primeiro é da Laura Athayde — com ilustrações lindas e recados motivadores (sem serem piegas) que dão uma baita vontade de pendurar aquelas imagens na parede.
Já o segundo é um prato cheio para os pesquisadores, amantes de fotografias antigas, estudantes e artistas. O Instituto Moreira Salles resolveu liberar para download gratuito parte do acervo em domínio público. Conferi o material e tem muita coisa boa por lá. Vale a pena acessar o site.
Estou por aí
Essa autora que vos escreve está com uma exposição no Memorial Minas Gerais Vale (MMGV), em Belo Horizonte. Farei uma news só para conversarmos sobre os detalhes dessa etapa de uma jornada que começou em 2022. Combinado?
O projeto faz parte de iniciativa de divulgação científica do MMGV para dar destaque a novos pesquisadores do estado. É uma ótima opção de rolê para o final de semana, caso more em BH ou região metropolitana. Dá para levar seus amigos, familiares, amorzinhos e contatinhos.
Serviço:
Exposição Corpos sem filtros: narrativas visuais de mulheres com deficiência.
Memorial Minas Gerais Vale (BH/MG) | Praça da Liberdade
Até o dia 3 de setembro | Entrada gratuita.
Anotações em notas:
“Mas há uma maneira ainda mais segura de garantir que não se tome um texto como efetiva expressão das capacidades de seu autor: é não escrever nada. Ninguém pode ler o que nunca foi posto no papel.”
Howard S. Becker: Truques da escrita (Antropologia Social)
Amei o texto!!! E sim, eu fiz o teste com "jornada" ;)