Cadê a felicidade que estava aqui? 🧐
Inquietações que chegam com tudo e vão embora sem deixar nada no lugar.
Olá, minhas xícrinhas de café. Como foi o começo de ano de vocês? Por aqui, tive algumas reviravoltas emocionais após a virada. Não foi nada grave, ainda bem, mas influenciaram meus planos de um jeito que me incomodou bastante. A edição de hoje é sobre essas inquietações que chegam com tudo e vão embora sem deixar nada no lugar.
Cadê a felicidade que estava aqui?
Na adolescência tinha o hábito de assistir vários desenhos animados nas horas livres. De Thundercats aos clássicos da Disney. Lembram dos tutoriais do Pateta? Looney Tunes também era um dos meus preferidos, principalmente os episódios com o Taz, aka Diabo da Tasmânia. Me identificava com a dificuldade de se comunicar e os momentos de "loucura" do personagem.
Geralmente não tenho dificuldade de falar em público, ou conversar com clareza, porém nem sempre fui assim. Tive minha primeira crise de depressão na adolescência, evitava me expor e lidar com desconhecidos. De tanto encolher em minha concha, mal conseguia falar com clareza. Era sempre um esforço fazer as pessoas entenderem o que eu dizia. Era como o Taz se embolando com os grunhidos que ninguém entendia.
Com tanto sentimento confuso crescendo em mim, ver o personagem girando e bagunçando o mundo todo, de alguma maneira me aliviava. Quem não gostaria de sair por aí, jogando tudo para o alto, só para aliviar a pressão do dia a dia?
Na impossibilidade de me transformar em um redemoinho, fui guardando aquela energia caótica até chegar ao ponto de não suportar mais. Descarregava aquela pressão nas pessoas por qualquer motivo fútil. Arranjava brigas com colegas, deixava de conversar e cada vez mais só aumentava o sentimento de tristeza e raiva. Era um tipo de comportamento abusivo que só aos poucos consegui reconhecer e lidar com as consequências das minhas ações. Mantive amizade com pessoas muito importantes para mim, a tempo de não me tornar uma persona non grata.
Tchau, Taz. Bem vindo, sol em escorpião.
Acho muita graça a reação das pessoas quando falo que meu signo é escorpião. Primeiro, dizem que não pareço ser desse signo, por ser bem humorada. Em seguida, surge a dúvida. Me perguntam se essa aparente tranquilidade é verdadeira, ou uma estratégia escorpiana de vingança. No final, fica o mistério tal qual as novelas mexicanas.
A verdade? Sou um eterno conflito interno. Um pacote de perguntas e mais perguntas. Um vulcão emocional onde o equilíbrio é só um lugar de passagem. Vivo nos extremos. Só amo se puder rir à toa, com a boca escancarada e brilho no olhar. Mas tenho uma raiva silenciosa, atenta a tudo e a espera das voltas que a vida dá.
Ao contrário do que parece, não sinto orgulho nenhum de ser assim. Separo as qualidades, vigio os defeitos, porém evito represar as emoções. Deixo o fluxo seguir seu rumo, enquanto corrijo seus caminhos. Às vezes dá certo, porém nos últimos meses tem sido muito difícil viver de intensidades.
Como ativista, sei a importância da raiva como ferramenta de mudança. Ela nos incomoda, mostra o que está nos desequilibrando e estimula a procura por novos cenários com mais justiça para um grupo maior. Entretanto, o que fazer quando não há espaço para mobilização? Quando vivemos com tantos estímulos que mal conseguimos separar as prioridades porque tudo tem o mesmo peso de importância?
É nessas horas que temos que fazer escolhas.
Penso na vida como um fluxo que está em constante mudança. Cada caminho levando para vários outros, com novas escolhas a serem realizadas. Vejo as emoções como reações a esse processo, por isso também devem seguir seu percurso para abrir espaço a novas experiências. Se me prendo em um momento de raiva, como irei receber os instantes de alegria?
Acredito que ser completa só é possível se aceitamos nossas imperfeições. Caso contrário, seremos apenas pessoas fazendo de conta que são felizes, mas saem por aí destruindo e jogando tudo pelo ar.
Meu terapeuta me recomendou escrever quando estivesse bem irritada. Colocar tudo no papel, depois jogar fora ou salvar para ler em outra ocasião. "Não importa o motivo da raiva, apenas escreva", ele disse. Assim eu fiz. Ou melhor, estou fazendo.
Quando escrevemos ou narramos nossas emoções, organizamos as ideias durante a escrita, respiramos a cada parágrafo e, involuntariamente, encontramos novas formas de lidar com toda a confusão mental de antes. Desde que comecei a experimentar essa "escrita-desabafo" estou conseguindo me sentir mais confortável com os meus momentos de desequilíbrio.
E você? O que faz para lidar com suas emoções?
Outras notas sobre esse tema
Sei que o texto ficou beeem extenso dessa vez, mas se tiver chegado até aqui sugiro a leitura de um post da Juliana Borges. Ele é muito interessante, tem a ver com o que conversamos hoje e apareceu aleatoriamente (ou não) na semana em que escrevi essa news. Espero que gostem. ;)